15 junho 2012

A vez dos quadrinhos



Por Luís Fernando Guidi

Entre as décadas de 1950 e 1980, época em que os quadrinhos eram ainda muito populares, se um aluno fosse pego lendo uma HQ, provavelmente a revista seria tomada, jogada no lixo ou até rasgada na frente de todo resto da sala. Para pais e educadores esse tipo de leitura era um desperdício de tempo e influência negativa na formação do jovem. Mas, recentemente, os quadrinhos deixaram de ser vistos apenas como entretenimento de massa. Se antes eram marginalizados por intelectuais, muitos títulos têm hoje, destaque no meio acadêmico, aparecem bem em críticas jornalísticas e são até reconhecidos na função de propagador do conhecimento.
Recentemente o governo, através de programas de incentivo à leitura, incluiu os quadrinhos nos títulos que foram distribuídos aos alunos da rede pública. De acordo com o MEC, as escolas receberam os livros independentemente do número de alunos matriculados. A escola com o menor número de estudantes recebeu um acervo com 50 títulos e as maiores, três acervos com 150 títulos. Dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia do MEC responsável pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), mostram que 49.799 escolas do sexto ao nono ano do ensino fundamental e 17.830 do ensino médio foram atendidas. No conjunto, o PNBE 2011 distribuiu para essas bibliotecas escolares 7 milhões de livros de literatura

Editoras e educadores descobrem agora que esse tipo de publicação pode ser uma grande aliada em sala de aula. O quadrinho parece ter todos os elementos para contar um período da história, por exemplo, já que dispõe de textos ágeis, repletos de diálogos e são apoiados em imagens que despertam o interesse de crianças e jovens pela comunicação dinâmica e agradável. “No mundo inteiro os quadrinhos estão sendo muito aproveitados nas escolas. Eles ensinam os menores a começar a sentir prazer com o silêncio da leitura”, relata Rogério de Campos, diretor da Conrad, uma das principais editoras do segmento e pioneira em quadrinhos no Brasil. Um de seus autores mais comentados é Joe Sacco. Nascido em Malta e vivendo nos Estados Unidos desde a adolescência, Sacco é um dos autores mais respeitados no mundo dos quadrinhos. Jornalista de formação, ele conseguiu unir a paixão da profissão com o desenho e criou sua própria maneira de informar com livros que retratam grandes conflitos da humanidade de forma humanizada, contando a história do ponto de vista das pessoas comuns. Entre suas principais obras estão duas sobre o conflito entre palestinos e judeus na Faixa de Gaza; uma sobre a história de Saravejo e outra sobre a guerra da Bósnia. Este gênero, batizado com o nome de “reportagem em quadrinhos”, vem sendo bastante elogiado e debatido no âmbito acadêmico. O autor esteve no Brasil em 2011 durante a Festa Literária Internacional de Paraty – Flip, e participou de diversos eventos com o público brasileiro.

As publicações nacionais também têm tido cada vez mais qualidade e agora ganham seu espaço. O Pernambucano Laílson de Holanda Cavalcanti teve uma charge diária no jornal Diário de Pernambuco por 27 anos e hoje cria personagens para cartilhas, materiais interativos e revistas em quadrinhos. Há alguns anos, escreveu o livro Pindorama – a outra história do Brasil (Editora Nacional), uma HQ bem-humorada que conta a história do Brasil, desde a chegada dos portugueses até a era Lula. O livro foi adotado por escolas públicas e privadas como material de apoio didático e recebeu muitas críticas favoráveis em sites e colunas especializadas. A obra também foi adotada em programas nacionais de distribuição de livros e bibliotecas em todo o Brasil. Laílson é palestrante, e em uma de suas palestras cujo o tema é Quadrinhos como ferramenta de apoio didático, ele divulga e explica o potencial da leitura para professores e profissionais de educação. “Os quadrinhos são uma excelente ferramenta de apoio didático, principalmente em tempos como os nossos, onde a imagem é um elemento fundamental de transmissão de conceitos e conhecimento”, diz.

O que o mercado espera é que o gênero se estabeleça não para substituir a leitura convencional, mas sim, para contribuir e dar apoio a árdua tarefa de despertar na criança e no jovem o prazer pela leitura. “Chegaremos ao momento em que não se estranhará mais a presença dos quadrinhos nas bibliotecas”, diz Campos da Conrad. “Eles sequer terão uma seção especial nas livrarias e estarão espalhados com os demais títulos”, completa. “À medida que os professores forem sendo informados e passarem a perceber as possibilidades que os quadrinhos podem proporcionar, tenho certeza que o mercado de HQ destinado à educação vai crescer bastante”, afirma Laílson.

Veja algumas das HQs que podem enriquecer uma aula
Palestina – uma nação ocupada: Uma viagem ao oriente médio para conhecer o drama real entre Palestinos e Judeus que vivem na Faixa de Gaza. Relatos verídicos de refugiados, soldados e vítimas de tortura.

Gorazde – área de segurança – a guerra da Bósnia Oriental 1992-1995: Durante a Guerra da Bósnia, a cidade de Sarajevo se tornou parte do grande espetáculo mundial. A parte oriental do país muçulmana foi vítima de selvagerias impostas pelas forças sérvias. Joe Sacco retrata tudo isso com um texto exato e desenhos detalhadíssimos.
Pindorama – a outra história do Brasil: De forma leve e bemhumorada, Lailson conta a história do Brasil, desde a chegada dos portugueses até a era Lula.
O Fotógrafo:  Coleção composta por 3 volumes e que conta a história de um fotógrafo francês que parte para o Afeganistão juntamente com uma equipe dos Médicos Sem Fronteiras. Na época, o país estava em guerra com a União Soviética. O livro mistura HQ com fotos.
A arte da guerra – o renascimento do império chinês: Antes de se tornar o país que é hoje, a China era dividida em diversos reinos. O livro conta o surgimento do império Chinês através de guerras e suas filosofias milenares.
Che – os últimos dias de um herói: Proibido na Argentina durante a ditadura, é considerada a maior biografia de Che já escrita.
Gen – pés descalços: Relato autobiográfico do japonês Keiji Nakazawa sobre os horrores da segunda guerra e os sobreviventes da bomba atômica.
Clássicos da literatura ganham formato em HQ
Os grandes clássicos da literatura mundial podem estar frescos na memória do público mais velho, mas apresentar essas obras aos mais jovens em sua versão original tem sido um grande desafio imposto a qualquer professor. Atentas às necessidades dos docentes, as editoras estão transformando os textos em histórias em quadrinhos. Esse é o caminho da linha Quadrinhos Nacional, da Companhia Editora Nacional, que se destaca pela variedade das obras e pela linguagem destinada ao público jovem. Os exemplares da coleção trazem histórias criadas por alguns dos maiores escritores de todos os tempos. As adaptações têm tamanho padrão de 48 páginas e todas custam R$ 23,90. Entre elas estão Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas. A publicação mostra o jovem D´Artagnam chegando em Paris e conhecendo os mosqueteiros Arthos, Porthos e Aramis. O quarteto se torna inseparável se verá em meio a perigosas intrigas que envolvem o trono francês. Já o suspense é a trama chave do clássico O Médico e o Monstro, do escritor Robert Lois Stevenson. O livro é uma trama psicológica entre o ser humano e sua possível versão bestial já que o médico Dr. Jekyll resolve, por meio de experimentos científicos, trazer à tona seu lado demoníaco. Clássicos como A ilha do tesouro,Macbeth, Drácula e O corcunda de Notre Dame são outros títulos que totalizam 16 obras adaptadas. Mas talvez os títulos que mais chamem a atenção dos jovens são os clássicos nacionais. Mais cedo ou mais tarde eles terão que entrar em contato com as obras de grandes autores como Machado de Assis, Lima Barreto e Manuel Antônio de Almeida. Adaptações como Triste fim de Policarpo Quaresma, O alienista e Memória de um sargento de milícias também fazem parte da coleção da Editora Nacional. Essa é uma grande oportunidade para apresentar a jovens e adolescentes os grandes clássicos da literatura mundial e, quem sabe, contribuir para a sólida formação de novos leitores.

Clube Eu Gosto - A Revista do Professor
Número VIII





08 junho 2012

DESCOBRINDO A SEXUALIDADE



"Há muita informação, inclusive via internet, pois estamos na era digital e o maior prejudicado é a criança que não tem como assimilar tudo isso sozinha. Ela precisa de orientação."

Por Helena Poças Leitao.

 


A sexualidade é um tema delicado mas muito importante de ser tratado com as crianças. Pais e professores precisam estar preparados para essa nova geração, que está munida de informações por todos os lados: televisão, internet, revistas, entre outros. Porém nem sempre essas informações são seguras. Os educadores devem estar atentos e mostrar às crianças que a sexualidade é algo natural, além de ensinar como lidar com ela de maneira saudável e responsável.
O educador e diretor-presidente da Abrades (Associação Brasileira de Educação sexual), César Nunes, responde algumas perguntas para esclarecer pais e professores sobre a educação sexual da criança.


RCEG: Com que idade as crianças começam a descobrir sobre a sexualidade?

 César Nunes: Os pais devem estar preparados para responder aos seus filhos questões que abordam desde o nascimento até as coordenadas humanas gerais da vivência da sexualidade.
Antes, a primeira coisa que é preciso compreender é que a sexualidade é uma dimensão humana. Os animais têm uma dimensão procriativa biológica, é uma dimensão de reprodução que não é sexualidade. A sexualidade é o conjunto de representações sociais, simbologias, qualidades, motivações que envolvem a dimensão biológica. Então só há sexualidade entre os seres humanos, os animais, somente a dimensão procriativa.
A criança, no primeiro ano de vida, tem completa dependência da mãe. Ela aprende a mamar, a mexer na boca, que é uma região libidinosa, que lhe dá prazer; a criança terá prazer também quando ela estiver limpa, sem xixi e cocô; isso tudo vai lhe dar uma percepção do corpo. Então se eu entendo que a sexualidade é uma dimensão humana, vou dizer que tudo o que faço e que humaniza a criança é sexualmente bom. Freud diz que, no primeiro ano da criança, suas preocupações são a relação que tem com a mãe, a de se alimentar. Ela vai começar a reconhecer a mãe pelo cheiro, inicia-se uma segurança afetiva. No final do primeiro ano ela vai aprender a controlar o esfíncter, quer dizer, a urina e o cocô, um controle que o próprio cérebro só consegue ter no final do primeiro ano. A partir do segundo ano a criança já começa a engatinhar, a tentar andar e inicia-se também uma percepção dos sentidos. A mãe começa a trocar gratificações corporais por gratificações psicológicas. Então se a criança faz o xixi no penico, se come direito, se dorme na hora certa, a criança é a queridinha da mãe, essa é a troca por gratificações psicológicas. Aos três anos de idade toda criança começa a se manipular. É importante destacar que manipulação e masturbação são coisas distintas. A manipulação é difusa, inofensiva, inocente. Só que na sociedade em que vivemos essa atitude foi carregada de preconceitos, de elementos, de controle, de repressão. A criança então vai querer saber se seus amigos têm o mesmo órgão que ela tem. Os meninos descobrem que têm pênis e as meninas, vagina. Daí começam os questionamentos para os pais. Este é o momento mais perigoso em que a criança precisa esclarecer suas dúvidas. Se os pais optarem por uma educação sexual tradicional, eu vou repassar os mesmos valores que chamo de “amelioides”, aquela concepção de que uma boa mulher deve ser Amélia, mais recatada, e “machistoides”, a ideia de que o homem precisa ser o macho da casa, o exibicionista. Os pais precisam ter uma ideia de projeto de homem e mulher para seus filhos, humanitário e igualitário. Quando a criança se manipula em público é necessário dizer a ela que há lugares para se fazer esse tipo de coisa, que deve ser em lugar privado do mesmo modo que só fazemos xixi no banheiro, por exemplo.

RCEG: Geralmente a primeira pergunta que a criança faz é “de onde vêm os bebês” ou “como eu nasci”. Como lidar com esse questionamento?

César Nunes: A cada curiosidade da criança, precisamos ter “liturgia”, palavras para corresponder a essas curiosidades, criando significações, como histórias fantasiosas, para tirar todas as dúvidas de cada etapa da vida dela.
Logicamente que devem ser usadas histórias fantasiosas para uma criança de até certa idade e, aos poucos, com jeito passamos a contá-las de forma mais realista. Deve-se sentir a evolução da criança e das informações a sua volta e se adaptar a ela.
Os grandes estudiosos diriam que no terceiro e quarto ano de idade a criança é egocêntrica, não no sentido de egoísmo, mas de só conseguir enxergar o mundo partindo dela mesma. Então quando uma criança pergunta “como eu nasci?” ela está perguntando “como o mundo se preparou para me receber?”. É uma pergunta fantasiosa, egocêntrica, e não é correto pedagogicamente você mostrar nessa fase que o pai tem um “pipi” e a mãe uma “vagina”, e por aí vai. Isso é para outra idade. Neste caso, vale uma história fantasiosa, centrada na criança. Para meu filho eu contei a seguinte história: “O pai e mãe estavam muito felizes, se amavam muito, mas sentiam que faltava alguma coisa para a vida ficar mais alegre e completa. Daí descobrimos que faltava você na nossa vida! Não sabia onde você poderia estar, talvez fosse um arco-íris, já que você é um excelente pintor. “Como ele pode ter tudo que eu e mãe têm de melhor?”Então, eu e sua mãe resolvemos esfregar o cabelo, o nariz, a boca, e assim você viria com um pouquinho de cada um. E eu me perguntava: “como vou trazer esse menino lindo para morar na minha casa?”Sua mãe disse: “eu tenho uma piscininha bem quentinha na minha barriga, ele pode ficar aqui”. Daí você ficou escondido nessa piscina, não dava para te ver. Sua mãe tem uma portinha da vida no meio das pernas e você apareceu por ela. Quando você nasceu, todos os amigos estavam reunidos e todos estavam felizes. O mundo se alegrou: cachorros latiram, fogos de artifício no céu, os sinos da igreja tocaram” e esse é um exemplo de história humanista, fantasiosa, egocêntrica, e é um jeito da criança ficar satisfeita, esclarecer sua curiosidade.
Aos sete anos de idade a criança vai fazer a mesma pergunta outra vez para os pais, porém a abordagem deve ser outra, mais realista. Então os pais vão contar que a “piscina quentinha” chama-se útero, que a “portinha da vida” chama-se “vagina” e assim por diante.

RCEG: Os pais e professores devem sempre aguardar a criança questionar sobre o assunto ou devem iniciar a conversa sobre sexualidade a partir de uma idade específica?

César Nunes: Aguardar sempre. A sexualidade tem a dinâmica dela. Podemos criar facilitadores no dia a dia. Uma vez, quando meu filho era pequeno e estava assistindo à televisão comigo, ele começou a se manipular. Em vez de dizer “tire a mão daí” eu dei um cobertorzinho para ele e disse que era para ele ficar mais reservado. Isso fez com que tivéssemos cumplicidade maior, pois dependendo da maneira com que os pais lidam com o assunto, acabam assustando a criança e, desse modo, ela não se abre e irá atrás de informações em outros lugares. Os pais têm de estar educados sexualmente, senão eles serão ventrículos da educação sexual tradicional, a “machistoide” e a “amelioide”. Se a criança não se manifesta, não adianta criar facilitadores como chamar para uma conversa: “sente aqui e vamos conversar sobre algo sério”; isso já amedronta. Ou “vamos ao médico para conversar sobre algo importante”; se a criança vai ao médico é porque ela pode estar doente, e isso a deixará com medo também.
Então os facilitadores dependem do grau de convivência, de humanização e de formação dos pais.

RCEG: Como trabalhar a sexualidade na escola?

César Nunes: Hoje nós temos uma sociedade que exibe a sexualidade na televisão, nas revistas, na internet, na novela das oito e não temos o acompanhamento, nem da família, nem da sociedade e nem da escola. A escola tem uma educação sexual biologista, médica, preventiva. Então aprende-se os nomes dos órgãos, as doenças e como preveni-las, o ciclo menstrual, enfim, uma linguagem somente científica. E hoje em dia, os pais delegaram a educação sexual para a escola, o que é um grande erro porque uma escola pode dizer sobre a psicologia do homem e da mulher, pode mostrar os papéis históricos, mas uma escola não pode dizer o que é certo e o que é errado, a moralidade sexual é dos pais. E nós vivemos hoje uma desagregação da família. Vivemos numa sociedade discursiva sobre o sexo mas pouco informada. A maior estrela do momento, o Neymar, engravida uma menor, ele com 19 e ela com 16. É a deseducação sexual, é o exemplo que o ídolo do futebol está passando para as crianças. Fora isso, músicas como funk, programas de TV, revistas para adolescentes estão estimulando a sexualidade de forma vulgar e mercantilista.
Há muita informação, inclusive via internet, pois estamos na era digital e o maior prejudicado é a criança que não tem como assimilar tudo isso sozinha. Ela precisa de orientação. A “orientação sexual” surgiu com os temas transversais em 1997, desse modo o professor começou a lidar melhor com o tema, porém não há em nenhum curso de Pedagogia um semestre sobre educação sexual na infância e na adolescência. Como o professor pode dar uma orientação sexual mais humana se ele não aprendeu a teoria pedagógica? As práticas do Ministério da Saúde, como distribuição de camisinha na escola, campanhas preventivas no Carnaval, entre outras, são importantes, mas elas sozinhas não moldam uma educação sexual eficaz. Hoje, estamos na pré-história da educação sexual, precisando passar para outro patamar. É necessário ter uma aula de educação afetiva e sexual, a criança e o adolescente precisam entender que a sexualidade está ligada ao afeto. Senão, olha o que acontece: uma pessoa que tem autoestima elevada não precisa sair beijando vinte pessoas numa balada, não precisa transar com quatorze anos desenfreadamente para fazer parte do grupo de amigos, as meninas não precisam sair com um monte de caras para provar que são atraentes.
Então precisamos sensibilizar os pais e formar os professores para essa educação sexual afetiva.



RCEG: Podem afetar a sexualidade na vida adulta o interesse na infância, que meninos têm pelas brincadeiras de meninas e vice-versa?

César Nunes: Não há tendências naturais para a homossexualidade ou heterossexualidade. Não é correto dizer isso. Não dá para saber o dia que eu virei heterossexual ou uma pessoa virou homossexual. Inclusive hoje já está se dizendo “homoafetivo” ou “homossexualidade”, pois o “ismo” do “homossexualismo” é machista e preconceituoso.
Há uma determinação biológica, o homem e a mulher, e uma determinação cultural, que canaliza ou reprime a sociedade. Não se pode afirmar: “eu sabia que ele (a) era homossexual pois tinha tendências biológicas”; ou: “é homossexual por causa do pai ou da mãe”; ou ainda: “é homossexual porque ele(a) escolheu”. Isso é incorreto.
A sexualidade é minha identidade ontológica e é por isso que é importante o bom relacionamento com os pais, pois aqueles que descobrem sua homossexualidade e não são aceitos pelos pais sofrem muito e podem tomar atitudes errôneas, tornando-se adultos infelizes e confusos.

RCEG: Quando o tema sexualidade não é bem trabalhado na infância, quais são as consequências?

César Nunes: Faz com que as crianças busquem outras fontes para tirar suas dúvidas, procurando as respostas em lugares menos qualificados para isso, como amigos, revistas pornográficas, internet, no banheiro, entre outros.
Eu acompanhei o programa “Malhação”, da rede Globo, que é focado em adolescentes. Certa vez, um personagem da novela disse: “eu não tenho atração nem por meninos e nem por meninas”; a professora respondeu “você é assexuado”. Criou-se uma categoria de “assexuado” em três programas! E isso não existe, nem na pedagogia e nem na biologia, a assexualidade é só para amebas! Cientificamente incorreto, atrasado e desumano. E não houve um lugar em que se alertasse a população para esse erro de informação.
Não há saída, ou criamos um espaço para debater sobre o assunto na escola ou em casa ou as crianças vão continuar aprendendo de forma errada sobre a sexualidade. A escola precisa perguntar: que sexualidade queremos passar? Como vamos passar? Os pais e professores devem se reeducar, ir atrás de informações, por meio de livros e outros materiais especializados, enfim, preparar-se para essa nova geração.



Clube Eu Gosto - A Revista do Professor

Número VI





04 junho 2012

INCLUSÃO EDUCACIONAL: CAMINHOS E DESAFIOS




Inclusão social é um termo amplo, utilizado em contextos diferentes, em referência a questões sociais variadas. De modo geral, o termo é utilizado para referir-se à inserção de pessoas com algum tipo de deficiência às escolas de ensino regular e ao mercado de trabalho, ou ainda para reportar-se a pessoas consideradas excluídas, que não têm as mesmas oportunidades dentro da sociedade, por motivos como:
• Condições sócioeconômicas
• Gênero
• Raça
• Falta de acesso a tecnologias
(exclusão digital)
A inserção dessas pessoas que se encontram a margem da sociedade ou o acesso as tecnologias aos excluídos digitais ocorre, geralmente, por meio de projetos de inclusão social, o que reforça a utilização desse termo. Alguns autores defendem, porém, que não existe o “fora” ou “dentro” da sociedade, já que todas as pessoas são produtos dela.

O processo de inclusão social de pessoas com necessidades especiais tornou-se efetivo a partir da Declaração de Salamanca, em 1994, respaldada pela Convenção dos Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre Educação para Todos (1990).

Os projetos de inclusão social de maior repercussão são os seguintes:

• O processo de inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas de ensino regular;

• A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, nas empresas com mais de cem funcionários, proporcionalmente.

• O sistema de cotas para negros, índios e estudantes egressos da escola pública nas universidades;

A inclusão social, em suas diferentes faces, é efetivada por meio de políticas públicas, que além de oficializar, devem viabilizar a inserção dos indivíduos aos meios sociais. Para isso, é necessário que sejam estabelecidos padrões de acessibilidade nos diferentes espaços (escolas, empresas, serviços públicos), assim como é necessário o investimento em formação inicial e continuada dos profissionais envolvidos no processo de inclusão, principalmente dos professores.

Pensar em inclusão social nos remete, necessariamente, ao seu reverso: a exclusão social. Os dados da realidade brasileira e mundial são tão marcantes quanto a exclusão, que, ao pensar em um projeto sobre ética e cidadania, somos levados a estabelecer a inclusão como um desejo, uma realidade que só será alcançada com grandes transformações sociais e políticas.

A situação de exclusão social que encontramos no Brasil, embora não expressa em números neste texto, também é muito grave. Buscar estratégias que se traduzam em melhores condições de vida para a população, na igualdade de oportunidades para todos os seres humanos e na construção de valores éticos socialmente desejáveis por parte dos membros das comunidades escolares é uma maneira de enfrentar essa situação e um bom caminho para a democracia e a cidadania.

O desafio da inclusão é uma possibilidade de se repensar o ensino, a aprendizagem, além de reestruturação de política e estratégias educacionais.
A inclusão educacional pressupõe a realização de currículos abertos e flexíveis, que sejam comprometidos com o atendimento às necessidades educacionais de todos os alunos assegurados através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Propiciando aos alunos possibilidades e direitos, a inclusão é um processo em construção, em que professores da classe comum, especialistas e profissionais da saúde, toda comunidade escolar devem trabalhar junto, para que a verdadeira inclusão se efetive.

Devemos enfrentar com urgência o desafio da inclusão escolar, precisamos colocar em prática os meios pelos quais ela se efetiva, promover uma reforma estrutural e organizacional de nossas escolas. Precisamos responder às novas propostas e mostrar nossa capacidade de mobilização.

A experiência inclusiva nos tem mostrado a efetivação da qualidade do ensino, do trabalho em conjunto, do compromisso de todos os envolvidos nesse processo inclusivo, apesar de que o maior desafio ainda seja a busca pela qualificação de todos os professores em razão das condições variáveis e difíceis em que muitas vezes trabalhamos.

Por que as atitudes dos indivíduos em relação ao próximo nem sempre condizem com valores como o respeito, a solidariedade e a cooperação? Em diferentes lugares do mundo, situações que retratam a violação desses deveres, como as atitudes que revelam os valores acima mencionados, geram indignação e inquietações. As virtudes, consideradas fundamentais para a qualidade da vida em sociedade, são também princípios da Inclusão, em seus diferentes aspectos: inclusão das diferenças de uma forma geral, em suas diversas manifestações.

Lembramos o quanto as sociedades se modificam e se transformam ao longo do tempo, o que pode ser facilmente constatado por meio de um breve resgate na história. Com efeito, essas mudanças podem ser superficiais ou profundas, lentas ou rápidas, instantâneas ou gradativas. Podemos ainda dizer que a sociedade atual se caracteriza pelo avanço técnico-científico e informacional que lhe confere peculiaridades nunca antes imaginadas. Em contrapartida, emerge a sociedade do ter em detrimento do ser, da rapidez desenfreada, da competição acirrada, e, porque não dizer, marcada por profundas crises.

Esses aspectos caracterizam as sociedades do mundo contemporâneo, que, vivenciam uma radical transformação ocorrida nos modos de vida e nas relações humanas.

O trabalho na escola inclusiva deve prever a mudança de comportamento, hábitos e valores, pressupondo que o docente compreenda como ocorre o desenvolvimento intelectual e moral da criança, a construção de conhecimentos e posteriormente a adaptação de atitudes (PIAGET, 1932).

A implementação efetiva da inclusão na escola e na sociedade está atrelada à forma que essa escola e essa sociedade vêem o ser humano. Inclusão significa exercício de direitos e deveres, qualidade de vida e das relações, a construção de uma sociedade igualitária, justa e acolhedora para todos!





Clube Eu Gosto - A Revista do Professor
Número IV


PAIS, FILHOS E ESCOLA - Triângulo amoroso delicado!




“O que temos pela frente, é a busca em reconstruir o papel de cada um, nem que seja para descobrir que eles estão misturados mesmo e que vão precisar caminhar assim.”

O contexto social atual tem se modificado, as relações que estabelecemos hoje são rápidas, apressadas e carregadas de compromissos urgentes. Nenhuma instituição social fica fora disso, nem mesmo a tão antiga escola.
Nela se relacionam pais, mães, professores e alunos. Se antes os papéis dessas pessoas eram assumidos com segurança, ou seja: pais que educavam, colocavam seus filhos para serem formados pela escola, e essa por sua vez transmitia conteúdo essencial para a inserção desse ser humano na sociedade. Hoje isso caiu em desuso.

Atualmente, a escola, representada por seus professores, forma e também busca educar. Aos pais cabe a tarefa de administrar o pouco tempo que têm e oferecer aos filhos atividades extras, que os deixam também sem tempo. Os filhos, por sua vez, assumiram o posto de receptáculos, e tudo aquilo que lhes é apresentado, na escola, de modo bem condensado e doce, é aprendido por eles.
O cenário descrito acima parece bem triste, nostálgico e pessimista, e o é, se olharmos para ele assim. Entretanto, acredito nas relações, principalmente naquelas que são construídas dentro do ambiente escolar. Vejo que a escola que recebe e acolhe pais e filhos deve ser um espaço de movimentação e discussão social.

Mudanças ocorreram, mas os pais ainda escolhem com carinho e atenção a escola para os seus filhos e acreditam nela; professores ainda gostam dos desafios diários com seus alunos; e as crianças querem estar na escola, junto de seus colegas e, quando convidados a participar, de modo ativo, o fazem com prontidão, disposição e interesse. Ainda há entre essas três pontas amor que nutre a vontade de continuar.

Os educadores, de modo geral, sentem as mudanças, nem sempre gostam delas, nem sempre sabem lidar com elas, afinal, eles também estão precisando assumir, por causa delas, outros papéis. Como buscam adaptar-se? Ocupam-se em falar sobre o que ocorre no dia a dia escolar, falam muito, discutem e pensam: se fosse como antes, se fosse antigamente, se fosse... Não fosse mais nada, acabou, e muitos dos professores nostálgicos só viveram a tal era dourada como alunos e nem sabem quais eram as durezas de ser professor.

A escola não tem a chance de reverter esse quadro social, até porque não vejo necessidade disso, o mundo se transformou e não importa se foi para melhor ou pior, simplesmente se transformou. O que temos pela frente é a busca de reconstruir o papel de cada um, nem que seja para descobrir que eles estão misturados mesmo e que vão precisar caminhar assim.

Para que isso aconteça, precisamos aprofundar as relações, as trocas entre pais, filhos e escola. A escola pode mediar essa aproximação organizando momentos de trocas verdadeiras; pais, professores e filhos conversando e vivenciando assuntos de interesse comum.

Pais, filhos e professores precisam de espaço para se reconhecerem socialmente, para entender os seus novos e atuais papéis, e a escola precisa estar preparada para auxiliá-los, sim. É só dessa forma que conseguirá, se desejarmos, assim como antes , cumprir com o seu compromisso social.

Ana Paula Dini
Educadora graduada, especialista em Educação Infantil
e mestranda pela Universidade de São Paulo – USP










A IMPORTÂNCIA DO AFETO EM SALA DE AULA

Gabriel Chalita

 











Não há quem se sinta bem ao ser maltratado, desestimulado ou desprezado. Isso vale em um restaurante, em um posto de saúde, em uma Igreja ou em uma escola. Nesses afetos cotidianos, nota-se o papel da escola como protagonista de uma sociedade melhor. É na escola que se moldarão o caráter e a personalidade, que aprendemos os primeiros passos rumo à formação do ser humano. Já não há mais espaço para instituições que passam burocraticamente informações aos alunos sem o cuidado de formá-los devidamente para a vida. Nesta entrevista, o professor e educador Gabriel Chalita mostra de forma prática como aplicar em sala de aula um dos conceitos que mais defende: a psicologia do afeto.





Revista Clube Eu Gosto:
Qual a importância e o resultado prático da afetividade no ambiente pedagógico?

Gabriel Chalita: O processo educativo envolve três grandes habilidades: cognitiva, social e emocional. A habilidade cognitiva trabalha com o processo constante de aprender novas ideias, conceitos e valores. A habilidade social desenvolve duas questões básicas: uma é a importância da cooperação, e a outra é a solidariedade. A habilidade emocional é a revelação do que há de mais nobre no ser humano: a capacidade de amar e de ser amado. Ela perpassa as outras duas. Não se aprende sem emoção e não se participa do jogo social sem emoção. A afetividade nasce dessa certeza de que o aluno aprende quando se sente valorizado, acolhido, respeitado. Portanto, o resultado prático é a construção de um espaço mais harmônico em que as heterogeneidades convivam em paz. E, além disso, a real possibilidade de aferir os resultados de uma educação com mais qualidade e significado para os aprendizes.


RCEG: Que ações e comportamentos práticos demonstram essa afetividade em sala de aula?
GC: Afetos cotidianos. Os professores têm de conhecer os seus alunos. Sei que isso não é fácil. Mas o ideal é o que propunha Aristóteles: o educador tem de ser como o médico. O médico precisa conhecer o paciente antes de prescrever um medicamento. Há doses diferentes do remédio de acordo com a necessidade de cada um. O educador tem de ir percebendo a evolução do aprendiz. E ir conduzindo com leveza os seus passos. Na prática, significa que o professor deve se preparar para entrar em uma sala de aula. Saber o nome dos alunos. Diferenciar autoridade de autoritarismo. Compreender que a didática da sala de aula precisa ser mais envolvente. O aluno participa melhor quando se sente desafiado a resolver problemas, quando percebe que as suas dúvidas são respeitadas. Não acredito na teoria do medo para garantir o bom comportamento em sala de aula ou evitar a algazarra.

RCEG: É possível conseguir disciplina com afeto?
 GC: Sem dúvida. Dom Bosco, o fundador dos salesianos, dizia que não basta aos jovens que sejam amados, eles precisam sentir que são amados. Ele tinha o desafio de cuidar de crianças cuja rebeldia fazia com que não fossem aceitas em escola alguma. E, aos poucos, ele ia conquistando uma a uma. O cinema é rico em exemplos assim.Professores que transformam a desconfiança ou a apatia dos seus alunos por meio de relações educadas, ternas, competentes. Evidentemente, não basta uma postura cordial, se o professor não se prepara, se não tem o que dizer. Conteúdo e forma são essenciais para que os alunos se interessem pela aula. O professor precisa despertar a curiosidade do aluno, compreender o erro e não supervalorizá-lo. E investir em uma relação que faça com que o aluno fique constrangido em ser indisciplinado, já que é tratado com tanto respeito. Uma regra básica: todo educador tem de ser educado. Esse já é um caminho para ter uma relação melhor entre mestres e aprendizes.


RCEG: Se a relação de afeto é uma relação com base na cumplicidade como conseguir isso do aluno?


GC: Aos poucos, como toda relação de afeto. Não adianta o professor chegar a uma sala de aula e dizer que ama os alunos ou que tem afeto por eles. Essas coisas não precisam ser ditas. O tempo vai mostrando o quanto aquele professor gosta de lecionar, o quanto ele se prepara para ajudar os alunos a encontrar os próprios sonhos. Trata-se de uma conquista cotidiana. O primeiro dia de aula é fundamental. O primeiro contato tem de ser de acolhimento e de instigação. Não há matéria chata. E o professor tem de se dar conta de que a didática precisa servir a essa causa de buscar na vida a continuação do conhecimento partilhado na sala de aula. É como oferecer o aroma de uma flor sem mostrá-la e esperar para ver os alpinistas escalar montes à sua procura. Paulo Freire dizia que o primeiro caminho para que o professor tenha sucesso é ver sua postura diante da vida. Quem gosta de viver tem chance de ser um bom professor; quem não gosta, fica mais difícil. Creio que o que o mestre queria dizer com isso é que a fremente aventura da vida não pode se reduzir a atitudes burocráticas, mas ao êxtase da boniteza da vida em que ensinamos e aprendemos constantemente – aí está a cumplicidade!


RCEG: Um dos resultados práticos da psicologia do afeto é o fortalecimento da autoestima. Como lutar contra o bullying, uma prática comum nas escolas e que vai contra a filosofia do afeto.
GC: O bullying é uma atitude de não convivência, de não harmonia nas relações humanas. Nasce do preconceito contra alguém que é diferente. Aí começa o problema, porque diferentes são todos. Não há pessoas iguais, nem os gêmeos. E conviver com a diferença faz parte da habilidade social. O bullying coloca no agressor o direito de destruir a vítima física ou moralmente. A vítima, debilitada, sente-se menor que os demais. Os que assistem também se diminuem. Aprendem antivalores. Acredito que o agressor ou os agressores sejam também vítimas. Não acredito que alguém nasça violento ou preconceituoso. Essas coisas são aprendidas em casa, na mídia, no contato com outras pessoas. Recentemente, os meios de comunicação mostraram uma mãe incentivando a filha a brigar na porta de uma escola. Na entrevista, ela não teve dúvidas: “Minha filha nasceu para bater e não para apanhar”. É impressionante como os pais estão distantes do que seria uma educação de qualidade. Alguns são ausentes; outros, sufocantes; outros, competidores ávidos que não admitem um erro dos filhos. Querem sempre vê-los no primeiro lugar do pódio. Ledo engano. A infância tem de ser o tempo da infância. Com as brincadeiras da infância. Com a espontaneidade da infância. Cada coisa no seu tempo. Aliás, em vez de transformá-las em adultos deveríamos fazer o inverso, redescobrir a criança adormecida nos adultos.

RCEG: O material didático tem alguma importância nesse processo de aplicação prática do afeto?
GC: Todo material é importante para instrumentalizar os caminhantes. O material didático não pode frustrar a autonomia, ao contrário, tem de despertar a curiosidade e impulsionar a competência na resolução de problemas. Assim, também, o chamado material paradidático. O livro é um instrumento precioso. A tecnologia evidentemente trouxe um novo tempo para o processo educativo, mas o livro, a contação de histórias, o convívio são a essência de um processo de crescimento, como já dissemos, cognitivo, social e emocional entre alunos e professores. Lembro-me de uma das minhas primeiras professoras que toda sexta-feira nos colocava no chão para ouvir uma história. Às vezes lia, às vezes contava. E no momento mais curioso da narrativa, fechava o livro ou a boca, dava uma pausa, e a notícia de que o final da história ficaria para a segunda-feira. E aí estava a curiosidade. Havia poucos livros na biblioteca e quase sempre não conseguíamos encontrar o final. Não havia internet. Esperávamos ansiosos pela segunda-feira para saber o desfecho. Era assim, na simplicidade da releitura de Sherazade que aquela professora/fada de uma escola pública do interior, com seu condão, tocava os nossos sentimentos e ensinava que nos livros estavam universos fascinantes que, quando descobertos, nos dariam a vitória singela atribuída aos desbravadores. Os livros, os materiais tecnológicos estão aí para ser desbravados. E é por isso que a educação não pode alijar a coragem, ao contrário, deve incentivá-la. Sem a coragem, as outras virtudes se intimidam.







Clube Eu Gosto - A Revista do Professor
Número II