10 agosto 2012

Política na escola



Helena Poças Leitão


A primeira definição de política vem do grego politiké = ciência dos negócios do Estado. A política surgiu na antiga Grécia, com Platão. Ele percebeu que através da educação cada homem desenvolve suas ideias e passa a viver de acordo com elas. O despertar para o mundo das ideias é um processo lento e gradual. Aliás, uma das características que diferencia o ser humano dos outros animais é sua capacidade de pensar, refletir, criar coisas novas com base em outras experiências ou experiências passadas. Foi ele também o primeiro a se preocupar com questões políticas, com formas de governar a pólis (cidade-Estado grega). Na pólis vive o cidadão, ou seja aquele que vive na cidade-Estado, assim a ideia de cidadania é bastante antiga.

Mas foi com Aristóteles que nasceu a política com forma sistemática, como necessidade natural do homem. O homem busca a felicidade, que é o maior de todos os bens, mas o homem não vive só, isolado, ele vive em grupo e precisa dos outros. Portanto, a felicidade coletiva, a ciência, a ética, e a política são os maiores bens do ser humano. Para Aristóteles a ciência política deveria ser extremamente ética.

Mas como a política é tratada no Brasil? Como mostrar a importância da política para os alunos? A professora e historiadora Bruna Cantele debate sobre o tema e explica a influência da política na educação brasileira.

RCEG: Como trabalhar o tema “política” em sala de aula para alunos do Ensino Fundamental I?

Bruna Renata Cantele: Do mesmo modo como adultos discutem e questionam os problemas, grupos de crianças que possuem pensar coletivo em muitos assuntos discutem e tomam decisões e partidos. Política deve ser assunto de sala de aula. O que não podemos fazer, com certeza, é expressar preferência por um ou outro partido político, isto é, partidarizar as aulas e nem tão pouco sair em defesa de algum político, afinal nós somos os multiplicadores de diferentes saberes. A vontade de cada um deve ser respeitada. Temos obrigação de formar cidadãos pensantes. Há muita coisa para se fazer, como o canto do Hino Nacional, símbolo pátrio auditivo, (que poucos adultos sabem cantar) o hasteamento da bandeira, o estudo de um símbolo do Estado ou da Pátria e, assim, está pronto o momento de cidadania, e o momento político de diferentes socializações de saberes.

Os alunos podem, dessa forma, viver experiências de atividades como poder escolher o seu representante de classe; estabelecer algumas regras para seus trabalhos; assumir responsabilidades nos trabalhos individuais, de grupo, adquirir liberdade, autonomia e respeitar os direitos dos outros. Os alunos começam a desenvolver uma consciência crítica, um comportamento cívico e a possibilidade de se tornarem futuros cidadãos, mais politizados para avaliar, escolher os líderes da sua comunidade, do seu estado, do seu país.

Para Vigotsky as crianças são capazes de trabalhar com ideias muito mais do que as pessoas imaginam.

RCEG: A Profa. acredita que a falta de conhecimento político do povo brasileiro deve se à pouca abordagem do tema desde a infância?

BRC: Sim, a pouca abordagem ministrada nos cursos não desperta nas crianças o desejo de conhecer quem são os políticos, o que eles representam na vida da comunidade; onde e como eles trabalham, como são eleitos. Acredito que o desenrolar de uma conversa em sala de aula poderá ser um mote para que as crianças ganhem a criticidade política. Verifica-se que não obstante os bonitos discursos circunstanciados politicamente, a educação formal continua sendo compartimentada em componentes, em grande quantidade voltada a conteúdos informativos, ministrada através de aulas expositivas e centradas em manuais escolares. O desejado desenvolvimento escolar, fundamentado em bases de política, da concepção global/integral das crianças e dos jovens, nas suas múltiplas dimensões, cognitivas, étnicas e humanísticas, não está acontecendo como devia.

A profissão do professor é paradoxal. De todas as ocupações, somente o ensino é responsável e encarregado da dificílima tarefa de habilidades e capacidades humanas que permitam às sociedades terem êxito. Mas é a escola que precisa se reestruturar politicamente, e tudo começa com a educação, com a formação dos professores, com projetos para acompanhar essa sociedade brasileira em transformação. Que a globalização e a transmissão do conhecimento sejam compartilhadas por muitas instituições, e que o trabalho não seja individual, mas grupal.

O sistema educativo, para mim, seria o conjunto de regras e tudo o que acontece dentro e fora da escola. Assim, participa do sistema muito mais a comunidade, na qual as associações, os meios de comunicação e a internet têm fundamental importância. Eu diria que a instituição educativa não pode trabalhar isolada. A falta de conhecimento político desde a infância leva o jovem à carência de bons saberes sobre o tema. Poderíamos pensar em um trabalho mais sistemático de apresentação dos direitos e deveres dos cidadãos para os jovens em suas primeiras incursões pelo universo educacional (como o direito do consumidor, leis de trânsito, direitos das crianças e adolescentes, direitos humanos). Obviamente que tudo isso deveria ser adaptado e que os professores deveriam ser preparados para que esse estudo venha a ter a eficácia desejada.

O futuro tende a descentralizar, dar maior autonomia aos docentes e às comunidades em razão de um fato importante que antes não existia – o contexto. Antes tudo era igual, hoje, ao contrário, tudo está mais contextualizado, porque aí estão todos os problemas da sociedade. O futuro será descentralizador.



RCEG: Os professores estão preparados para trabalhar a política em sala de aula?

BRC: Acho que há muito para se fazer ainda; mas muito já foi feito com os professores. É preciso seguir uma série de etapas, estamos no século XXI, um tempo de transformações velozes, de complexidade crescente, de novas linguagens tomando conta da sociedade, de novos saberes. Contudo, o espaço escolar não é mais o único lugar para se aprender, por isso nosso desafio deve ser constante, devemos nos atualizar. Mas onde adquirir os conhecimentos políticos para essa dinâmica se não há ênfase política nos cursos de pedagogia? Na verdade os professores se preocupam
mais com a alfabetização do que com a política. Lembremos que são os primeiros professores os catalisadores da sociedade de informação. Eles deveriam estar mais bem preparados, o Estado devia fornecer subsídios para isso. Os professores passam por imensos desafios e aqueles que desejam reformar o ensino e aperfeiçoar saberes sofrem a solidão desse processo. Recebemos legados culturais muito menores que outros países.

RCEG: Quais os benefícios, para os alunos, de aprender conceitos básicos da política desde cedo?

BRC: É importante que a política venha a ser parte do currículo de jovens, para que eles cresçam sabendo de suas responsabilidades, de seus direitos, para que participem de forma mais ativa na construção do nosso país. Acredito que os jovens mais politizados, conscientes, escolhem melhor por meio do voto seus representantes. Os jovens estudantes certamente não vão acabar com a desigualdade social, mas terão um melhor treinamento de habilidades essenciais para que se cumpra o processo democrático.

Os jovens de hoje serão os representantes do povo amanhã, não podemos nos esquecer disso. Quando enfrentarem conflitos e discordâncias, farão desses momentos debates para o processo democrático, o uso da cidadania e da política. Esperamos que eles se tornem agentes qualificados do processo de mudança, reagindo rápida e eficazmente às mudanças sociais e políticas, e que entrem em contato com a realidade política do país em que vivem.

Sugiro aos professores que incentivem a dialética sobre o prefeito, o governador e o presidente do país em que vivem, usando temas como: se eu fosse prefeito de minha cidade, ou o governador de meu estado, ou ainda o presidente de meu país, o que eu faria? O trabalho poderá ser individual ou em grupo, escrito ou também ser colocado em um mural, sendo exposto para socializar as ideias.

RCEG: Os brasileiros não acreditam na política devido aos escândalos, desvios de dinheiro pelo governo, pessoas despreparadas que se candidatam a cargos públicos, entre outros. Como a professora acha que podemos mudar esse quadro?

BRC: Sem generalizar, vamos pensar juntas? Somos catalisadores da mudança na sociedade, somos vítimas do enfraquecimento da rede de redução dos gastos com o bem público, da convulsão social na família dos aluno, e boa parte do descompromisso com a vida pública e política.

É comum ouvir em uma reunião social as pessoas dizerem; – Ah! Falar de política não muda o foco!

Nosso interesse político é muito pequeno, somos pouco alfabetizados politicamente. Essa nossa ausência de participação política gera o desconhecimento que passa de geração para geração. Acredito que os escândalos e os desvios de dinheiro pelo governo feitos pelos candidatos a cargos públicos não acontecem só no nosso país. Mas no Brasil temos tido governos que se afastaram dos planos propostos e fizeram dívidas nacionais para liberar o investimento pessoal. E é neste que surge a escola pública como um dos itens mais onerosos e vulneráveis na lista dos gastos públicos. Estamos despertando politicamente; viemos de escândalos desde a Primeira República, escândalos no Governo Vargas (ditadura varguista, o peleguismo); depois, veio o período da República populista de 1951-1964 e uma ditadura de mais de 20 anos (1964-1985), nosso conhecimento é relativamente pequeno no que diz respeito à democracia, ao processo eleitoral etc. Atualmente ouvimos falar em mensalão, imunidade parlamentar, picaretagens e outros termos que nos envergonham como brasileiros.

Rui Barbosa faz quase cem anos, mas ele tinha razão ao dizer: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto”.


RCEG: Ano após ano, candidatos prometem investir mais em educação, porém, aparentemente não enxergamos mudanças significativas. A professora tem a mesma opinião?
BRC: Sim, temos que promover uma educação que contrarie a cegueira do pensamento simplificador (“deixa isso para lá, depois eu resolvo, amanhã é outro dia, vamos em frente, deixa, o que for eleito está bom, nada vai mudar mesmo...”) dando aos professores uma educação que desenvolva a competência de pensar de uma forma mais global, mais humanista. Falta lançar bases sólidas, bases que implicam o desenvolvimento do espírito ético e social. Para que se cumpra o projeto educacional de modo significativo: regularizar o fluxo escolar, tirar o jovem das ruas, montar programas educativos, acelerar a prática educativa para que o aluno e o professor sejam contemplados.O aluno, com o conhecimento, e o professor com vontade de transmitir saberes tendo um salário digno.
Acho que é necessário mudar a forma de conceber a educação. Razões epistemológicas, pela própria evolução do modo de pensar sobre natureza e conhecimento, vão levar às mudanças. As promessas são parte do processo político; mas cumpri-las é que são elas... O que é uma pena, pois as concepções políticas, como já foi dito, nascem com a realização nos primeiros anos do Ensino Fundamental.


RCEG Como a professor. vê a qualidade de educação oferecida nas escolas públicas e nas escolas particulares?
BRC: A função da escola e o paradigma educativo dominante têm que ser reequacionados, diante dos desafios colocados, com crescente premência, nas sociedades contemporâneas, e que são decorrentes: da falência da crescente compartimentação e da atomização do conhecimento científico; dos desastres e desequilíbrios ecológicos; do alastramento de doenças com elevadas taxas de mortalidade; da contaminação da cadeia alimentar; do enfraquecimento da família; do alastramento da subcultura que se traduz na perda do sentido estético, da criatividade e do espírito crítico; da perda de referências culturais e patrimoniais. Tudo isto colaborou para a desigualdade entre a educação pública e a particular. A escola pública ou particular deveria ser o centro de referência de cidadania. Já trabalhei na rede pública e, agora, na rede particular. As minhas aulas sempre tiveram a mesma qualidade.
Vejo a educação como um processo de ampliação de experiências e realização de novas aprendizagens. Se não estiver enganada 90% dos brasileiros que podem pagar escola colocam os filhos em escolas particulares. Por quê? Porque nas últimas décadas houve uma grande inversão de valores de políticas educacionais públicas. Falta vontade política, recursos e, sobretudo, compromisso com o resultado dos alunos. Isso acabou virando uma bola de neve, que afetou educadores que se desdobram para manter a qualidade do ensino, tarefa que pode durar muitos anos ainda (20 ou 30 anos). Resultado: compromete-se o futuro dos alunos, enganam-se os professores com falsas promessas e a maioria dos brasileirinhos não terá a prometida educação.

O novo modelo educativo tem que requerer sintonia maior entre o pensar e o sentir, entre o desenvolvimento da abstração e dos diversos aspectos da personalidade. Devemos associar num mesmo ato, em qualquer proposta educativa, o conhecimento com o afeto, o pensamento, o raciocínio com a moralidade, o acadêmico com o pessoal, as aprendizagens com os valores. Ou seja, escola pública ou particular deviam compartilhar uma educação integral, uma meta eu historicamente deveriam estar presentes em todas as pedagogias inovadoras.



RCEG: A senhora tem conhecimento de projetos bem-sucedidos criados pelo governo ou por instituições educacionais sobre o ensino de política para crianças?

BRC: Conheço o programa Acelera Brasil, promovido pelo Instituto Ayrton Senna, que demonstrou ser possível fazer muito pelos jovens nos primeiros anos do Ensino Fundamental I – com paciência, carinho e afeto. Mas ainda falta vontade política, práticas públicas e compromissos das autoridades competentes.

Conheço também algumas ONGs que atuam nessa área da educação promovendo reformas ambientais, reciclagens etc.

Trabalho em um colégio da rede particular de ensino e acabamos de realizar alguns projetos dos quais posso disponibilizar as principais ideias. Iniciamos o trabalho, preocupados em estruturar uma metodologia que respeitasse as especificidades de cada trabalho dos alunos envolvidos. Traçamos uma linha de trabalho, o que podia e o que não podia ser feito. Deixamos claras, as situações cotidianas, os enfrentamentos que eles teriam e assim foi... Trabalhamos o atual processo eleitoral no Fundamental com o projeto de personagens da literatura infantil que se tornaram candidatos. Os alunos fizeram seus projetos políticos, em torno dos temas: saúde, educação, biodiversidade. Apresentaram os projetos às classes, fizeram os “santinhos” e distribuíram entre os colegas, discursos animaram a campanha política, tudo de acordo com o que se vê na TV. Distribuíram entre os colegas programas políticos.
Depois, ocorreu o processo de votação com urnas eletrônicas cedidas pelo departamento de informática. Claro que ganhou o partido que lutou pela biodiversidade, assunto do momento.

Outro projeto foi o “vereador mirim”, Parlamento Jovem, que foi a Câmara Municipal de São Paulo e a aluna defendeu o tema: Preservação do Patrimônio Histórico. Experiência de cidadania e contato com a realidade política e vivência com o plenário.


RCEG: Em sua opinião, o país está progredindo ou regredindo? Por quê?

BRC: Sou otimista, não vejo regressão no país. Mas pé no chão... o país ainda não mudou a forma de pensar e fazer educação, muitas vezes atropelamos razão e bom senso. É preciso definir prioridades, se não o que acontece é que a educação muda, mas não melhora.

Os temas que tratamos são reconhecidos por todos como necessários ao bem público. Estamos discutindo o que muitos gostariam de fazer, colocando problemas que muitos certamente já discutiram. Estamos procurando nossa identidade como brasileiros, e quem trabalha com educação e é educador não pode ser pessimista, tem que otimizar ideias e continuar a lutar pela melhoria e qualidade da educação. Posso até não ser original, mas com certeza percebi que da minha juventude até hoje só crescemos, imagine se não existisse falcatruas, hem!!! Que maravilha seria.

Acredito na democracia e, acima de tudo, numa forma de vida e num processo permanente de libertação da inteligência e não em regime de governo. Para mim democracia e ensino são inseparáveis e influenciam se mutuamente: a educação ganha em intensidade e, quanto maior for à presença da ética democrática nela existente, mais cresce o sentido de políticas públicas e elas se tornam democráticas.

Acredito também que nós, professores, temos a força para mudar o rumo de muitas coisas neste país. E, para terminar, frases de Martin Luther King:

É melhor tentar e falhar que se preocupar e ver a vida passar.
Eu prefiro na chuva caminhar que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco que em conformidade viver.
Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.





Clube Eu Gosto - A Revista do Professor
Número V


13 julho 2012

Volta às aulas

Como se preparar para a adaptação das crianças na Educação infantil?





Por Pollyanna Regina de Melo Machado
Coordenadora Pedagógica da Editora IBEP


O processo de adaptação da criança à escola é um período muito delicado, pois envolve toda a comunidade escolar, ou seja, os pais, os professores e os demais funcionários da instituição na qual a criança está inserida. A separação promovida por este momento afeta não somente as crianças assim como os pais. Além de fazer brotar sentimentos de delicadeza nos professores. O início da vida escolar pode ser uma ocasião repulsiva ou agradável.

Neste contexto, essa fase pode provocar ansiedade, medo, insegurança e o despertar para outros sentimentos.

OS PAIS - A reação muitas vezes apresentada pela criança é através do choro, considerado normal por professores e estudiosos na área da Educação Infantil. Nessa ocasião a ajuda dos pais é fundamental. É importante destacar que ao ver e escutar o choro do fi lho não se deve levá-lo de volta para casa, pois estaria apenas prolongando ainda mais o processo de adaptação aluno/escola. Outro aspecto importante é não permanecer na Escola e ir buscá-lo no horário combinado, facilitando deste modo a readaptação da criança às atividades diárias

A ESCOLA - Antes do início das aulas, a instituição deve divulgar a sua proposta pedagógica, o seu objetivo e missão, explicar como se dá esse processo de acomodação, enfatizando que esse momento merece uma atenção especial, por isso a importância da realização de reuniões coletivas e individuais entre pais, alunos, gestores e professores. O que possibilita o andamento relacionado a sugestões e ao esclarecimento de dúvidas. Nesse momento serão plantadas sementes para o estabelecimento de uma relação de confiança, afetividade e amizade entre todos, além de proporcionar à criança o reconhecimento do novo ambiente e a aliança de uma nova relação.

O PROFESSOR - Também passa pelo processo de adaptação, pois a cada ano inicia novas experiências, novas crianças, novos pais. Este deve proporcionar uma sala de aula agradável e acolhedora, com atividades lúdicas e prazerosas que supram a instabilidade vivida pela criança, e que estimule a sua individualidade e socialização, com o uso de músicas e danças, jogos e brincadeiras, contação de histórias, dentre outras. Dessa forma o professor irá conquistar a simpatia da criança, facilitando o processo de comunicação e interação da turma.
As expectativas desses profissionais são muitas: Como serão as novas crianças? Serei bem aceito por elas? Será que elas confiarão em mim? Ademais, a rotina é muitas vezes da própria escola e são modificadas diante das peculiaridades encontradas no processo de adaptação. Enfim, o professor é o principal mediador e tem que atender as expectativas dos pais, ganhar a confiança das crianças e de seus familiares e ainda conduzir esse processo, além de trabalhar seus próprios sentimentos.
Logo, o espaço prazeroso, afetivo, espontâneo proporcionado pela escola e pelo professor leva os alunos a alçarem seus objetivos, para isso trabalha-se com as seguintes estratégias: apresentação das dependências da escola, bem como de seus colaboradores e suas respectivas funções, atividades que proporcionam o desenvolvimento das diversas formas de linguagem como: cantar, dançar, imitar, balbuciar, desenhar, pintar, atividades que auxiliam no desenvolvimento psicomotor como: engatinhar, arrastar, correr, rolar, pular, rasgar, amassar, subir, descer, andar em linha reta, empurrar, atividades que instiguem a imaginação e a criatividade como: faz-de-conta, reconto de histórias e brincadeiras livres.

Desenvolvendo


Uma criança que se distrai empurrando uma caixa acaba descobrindo a força de seu corpo e aprende noções de causa e efeito. Quando brinca, mesmo sozinha, ela ordena o pensamento, estimula a criatividade e aperfeiçoa a capacidade de resolver problemas. As atividades lúdicas também ajudam a criar e a consolidar a auto-estima tornando qualquer aprendizado leve e descontraído.

Afinal, a criança é um ser em desenvolvimento que não dispõe o tempo todo das mesmas ferramentas e da mesma competência. Na volta às aulas é importante manter a coerência entre as expectativas e o real, o qual permite um ambiente de comunicação, de prazer, de ensino e de aprendizagem, onde permeiam sentimentos de amor e esperança explícitos em cada gesto, em cada palavra

A Coleção Pedalinho apresenta narrativas curtas; ilustrações alegres e ricas; personagens e elementos textuais de fácil assimilação para crianças e todo texto verbal é acompanhada por texto não-verbal.


Clube Eu Gosto - A Revista do Professor
Número VIII





15 junho 2012

A vez dos quadrinhos



Por Luís Fernando Guidi

Entre as décadas de 1950 e 1980, época em que os quadrinhos eram ainda muito populares, se um aluno fosse pego lendo uma HQ, provavelmente a revista seria tomada, jogada no lixo ou até rasgada na frente de todo resto da sala. Para pais e educadores esse tipo de leitura era um desperdício de tempo e influência negativa na formação do jovem. Mas, recentemente, os quadrinhos deixaram de ser vistos apenas como entretenimento de massa. Se antes eram marginalizados por intelectuais, muitos títulos têm hoje, destaque no meio acadêmico, aparecem bem em críticas jornalísticas e são até reconhecidos na função de propagador do conhecimento.
Recentemente o governo, através de programas de incentivo à leitura, incluiu os quadrinhos nos títulos que foram distribuídos aos alunos da rede pública. De acordo com o MEC, as escolas receberam os livros independentemente do número de alunos matriculados. A escola com o menor número de estudantes recebeu um acervo com 50 títulos e as maiores, três acervos com 150 títulos. Dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia do MEC responsável pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), mostram que 49.799 escolas do sexto ao nono ano do ensino fundamental e 17.830 do ensino médio foram atendidas. No conjunto, o PNBE 2011 distribuiu para essas bibliotecas escolares 7 milhões de livros de literatura

Editoras e educadores descobrem agora que esse tipo de publicação pode ser uma grande aliada em sala de aula. O quadrinho parece ter todos os elementos para contar um período da história, por exemplo, já que dispõe de textos ágeis, repletos de diálogos e são apoiados em imagens que despertam o interesse de crianças e jovens pela comunicação dinâmica e agradável. “No mundo inteiro os quadrinhos estão sendo muito aproveitados nas escolas. Eles ensinam os menores a começar a sentir prazer com o silêncio da leitura”, relata Rogério de Campos, diretor da Conrad, uma das principais editoras do segmento e pioneira em quadrinhos no Brasil. Um de seus autores mais comentados é Joe Sacco. Nascido em Malta e vivendo nos Estados Unidos desde a adolescência, Sacco é um dos autores mais respeitados no mundo dos quadrinhos. Jornalista de formação, ele conseguiu unir a paixão da profissão com o desenho e criou sua própria maneira de informar com livros que retratam grandes conflitos da humanidade de forma humanizada, contando a história do ponto de vista das pessoas comuns. Entre suas principais obras estão duas sobre o conflito entre palestinos e judeus na Faixa de Gaza; uma sobre a história de Saravejo e outra sobre a guerra da Bósnia. Este gênero, batizado com o nome de “reportagem em quadrinhos”, vem sendo bastante elogiado e debatido no âmbito acadêmico. O autor esteve no Brasil em 2011 durante a Festa Literária Internacional de Paraty – Flip, e participou de diversos eventos com o público brasileiro.

As publicações nacionais também têm tido cada vez mais qualidade e agora ganham seu espaço. O Pernambucano Laílson de Holanda Cavalcanti teve uma charge diária no jornal Diário de Pernambuco por 27 anos e hoje cria personagens para cartilhas, materiais interativos e revistas em quadrinhos. Há alguns anos, escreveu o livro Pindorama – a outra história do Brasil (Editora Nacional), uma HQ bem-humorada que conta a história do Brasil, desde a chegada dos portugueses até a era Lula. O livro foi adotado por escolas públicas e privadas como material de apoio didático e recebeu muitas críticas favoráveis em sites e colunas especializadas. A obra também foi adotada em programas nacionais de distribuição de livros e bibliotecas em todo o Brasil. Laílson é palestrante, e em uma de suas palestras cujo o tema é Quadrinhos como ferramenta de apoio didático, ele divulga e explica o potencial da leitura para professores e profissionais de educação. “Os quadrinhos são uma excelente ferramenta de apoio didático, principalmente em tempos como os nossos, onde a imagem é um elemento fundamental de transmissão de conceitos e conhecimento”, diz.

O que o mercado espera é que o gênero se estabeleça não para substituir a leitura convencional, mas sim, para contribuir e dar apoio a árdua tarefa de despertar na criança e no jovem o prazer pela leitura. “Chegaremos ao momento em que não se estranhará mais a presença dos quadrinhos nas bibliotecas”, diz Campos da Conrad. “Eles sequer terão uma seção especial nas livrarias e estarão espalhados com os demais títulos”, completa. “À medida que os professores forem sendo informados e passarem a perceber as possibilidades que os quadrinhos podem proporcionar, tenho certeza que o mercado de HQ destinado à educação vai crescer bastante”, afirma Laílson.

Veja algumas das HQs que podem enriquecer uma aula
Palestina – uma nação ocupada: Uma viagem ao oriente médio para conhecer o drama real entre Palestinos e Judeus que vivem na Faixa de Gaza. Relatos verídicos de refugiados, soldados e vítimas de tortura.

Gorazde – área de segurança – a guerra da Bósnia Oriental 1992-1995: Durante a Guerra da Bósnia, a cidade de Sarajevo se tornou parte do grande espetáculo mundial. A parte oriental do país muçulmana foi vítima de selvagerias impostas pelas forças sérvias. Joe Sacco retrata tudo isso com um texto exato e desenhos detalhadíssimos.
Pindorama – a outra história do Brasil: De forma leve e bemhumorada, Lailson conta a história do Brasil, desde a chegada dos portugueses até a era Lula.
O Fotógrafo:  Coleção composta por 3 volumes e que conta a história de um fotógrafo francês que parte para o Afeganistão juntamente com uma equipe dos Médicos Sem Fronteiras. Na época, o país estava em guerra com a União Soviética. O livro mistura HQ com fotos.
A arte da guerra – o renascimento do império chinês: Antes de se tornar o país que é hoje, a China era dividida em diversos reinos. O livro conta o surgimento do império Chinês através de guerras e suas filosofias milenares.
Che – os últimos dias de um herói: Proibido na Argentina durante a ditadura, é considerada a maior biografia de Che já escrita.
Gen – pés descalços: Relato autobiográfico do japonês Keiji Nakazawa sobre os horrores da segunda guerra e os sobreviventes da bomba atômica.
Clássicos da literatura ganham formato em HQ
Os grandes clássicos da literatura mundial podem estar frescos na memória do público mais velho, mas apresentar essas obras aos mais jovens em sua versão original tem sido um grande desafio imposto a qualquer professor. Atentas às necessidades dos docentes, as editoras estão transformando os textos em histórias em quadrinhos. Esse é o caminho da linha Quadrinhos Nacional, da Companhia Editora Nacional, que se destaca pela variedade das obras e pela linguagem destinada ao público jovem. Os exemplares da coleção trazem histórias criadas por alguns dos maiores escritores de todos os tempos. As adaptações têm tamanho padrão de 48 páginas e todas custam R$ 23,90. Entre elas estão Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas. A publicação mostra o jovem D´Artagnam chegando em Paris e conhecendo os mosqueteiros Arthos, Porthos e Aramis. O quarteto se torna inseparável se verá em meio a perigosas intrigas que envolvem o trono francês. Já o suspense é a trama chave do clássico O Médico e o Monstro, do escritor Robert Lois Stevenson. O livro é uma trama psicológica entre o ser humano e sua possível versão bestial já que o médico Dr. Jekyll resolve, por meio de experimentos científicos, trazer à tona seu lado demoníaco. Clássicos como A ilha do tesouro,Macbeth, Drácula e O corcunda de Notre Dame são outros títulos que totalizam 16 obras adaptadas. Mas talvez os títulos que mais chamem a atenção dos jovens são os clássicos nacionais. Mais cedo ou mais tarde eles terão que entrar em contato com as obras de grandes autores como Machado de Assis, Lima Barreto e Manuel Antônio de Almeida. Adaptações como Triste fim de Policarpo Quaresma, O alienista e Memória de um sargento de milícias também fazem parte da coleção da Editora Nacional. Essa é uma grande oportunidade para apresentar a jovens e adolescentes os grandes clássicos da literatura mundial e, quem sabe, contribuir para a sólida formação de novos leitores.

Clube Eu Gosto - A Revista do Professor
Número VIII





08 junho 2012

DESCOBRINDO A SEXUALIDADE



"Há muita informação, inclusive via internet, pois estamos na era digital e o maior prejudicado é a criança que não tem como assimilar tudo isso sozinha. Ela precisa de orientação."

Por Helena Poças Leitao.

 


A sexualidade é um tema delicado mas muito importante de ser tratado com as crianças. Pais e professores precisam estar preparados para essa nova geração, que está munida de informações por todos os lados: televisão, internet, revistas, entre outros. Porém nem sempre essas informações são seguras. Os educadores devem estar atentos e mostrar às crianças que a sexualidade é algo natural, além de ensinar como lidar com ela de maneira saudável e responsável.
O educador e diretor-presidente da Abrades (Associação Brasileira de Educação sexual), César Nunes, responde algumas perguntas para esclarecer pais e professores sobre a educação sexual da criança.


RCEG: Com que idade as crianças começam a descobrir sobre a sexualidade?

 César Nunes: Os pais devem estar preparados para responder aos seus filhos questões que abordam desde o nascimento até as coordenadas humanas gerais da vivência da sexualidade.
Antes, a primeira coisa que é preciso compreender é que a sexualidade é uma dimensão humana. Os animais têm uma dimensão procriativa biológica, é uma dimensão de reprodução que não é sexualidade. A sexualidade é o conjunto de representações sociais, simbologias, qualidades, motivações que envolvem a dimensão biológica. Então só há sexualidade entre os seres humanos, os animais, somente a dimensão procriativa.
A criança, no primeiro ano de vida, tem completa dependência da mãe. Ela aprende a mamar, a mexer na boca, que é uma região libidinosa, que lhe dá prazer; a criança terá prazer também quando ela estiver limpa, sem xixi e cocô; isso tudo vai lhe dar uma percepção do corpo. Então se eu entendo que a sexualidade é uma dimensão humana, vou dizer que tudo o que faço e que humaniza a criança é sexualmente bom. Freud diz que, no primeiro ano da criança, suas preocupações são a relação que tem com a mãe, a de se alimentar. Ela vai começar a reconhecer a mãe pelo cheiro, inicia-se uma segurança afetiva. No final do primeiro ano ela vai aprender a controlar o esfíncter, quer dizer, a urina e o cocô, um controle que o próprio cérebro só consegue ter no final do primeiro ano. A partir do segundo ano a criança já começa a engatinhar, a tentar andar e inicia-se também uma percepção dos sentidos. A mãe começa a trocar gratificações corporais por gratificações psicológicas. Então se a criança faz o xixi no penico, se come direito, se dorme na hora certa, a criança é a queridinha da mãe, essa é a troca por gratificações psicológicas. Aos três anos de idade toda criança começa a se manipular. É importante destacar que manipulação e masturbação são coisas distintas. A manipulação é difusa, inofensiva, inocente. Só que na sociedade em que vivemos essa atitude foi carregada de preconceitos, de elementos, de controle, de repressão. A criança então vai querer saber se seus amigos têm o mesmo órgão que ela tem. Os meninos descobrem que têm pênis e as meninas, vagina. Daí começam os questionamentos para os pais. Este é o momento mais perigoso em que a criança precisa esclarecer suas dúvidas. Se os pais optarem por uma educação sexual tradicional, eu vou repassar os mesmos valores que chamo de “amelioides”, aquela concepção de que uma boa mulher deve ser Amélia, mais recatada, e “machistoides”, a ideia de que o homem precisa ser o macho da casa, o exibicionista. Os pais precisam ter uma ideia de projeto de homem e mulher para seus filhos, humanitário e igualitário. Quando a criança se manipula em público é necessário dizer a ela que há lugares para se fazer esse tipo de coisa, que deve ser em lugar privado do mesmo modo que só fazemos xixi no banheiro, por exemplo.

RCEG: Geralmente a primeira pergunta que a criança faz é “de onde vêm os bebês” ou “como eu nasci”. Como lidar com esse questionamento?

César Nunes: A cada curiosidade da criança, precisamos ter “liturgia”, palavras para corresponder a essas curiosidades, criando significações, como histórias fantasiosas, para tirar todas as dúvidas de cada etapa da vida dela.
Logicamente que devem ser usadas histórias fantasiosas para uma criança de até certa idade e, aos poucos, com jeito passamos a contá-las de forma mais realista. Deve-se sentir a evolução da criança e das informações a sua volta e se adaptar a ela.
Os grandes estudiosos diriam que no terceiro e quarto ano de idade a criança é egocêntrica, não no sentido de egoísmo, mas de só conseguir enxergar o mundo partindo dela mesma. Então quando uma criança pergunta “como eu nasci?” ela está perguntando “como o mundo se preparou para me receber?”. É uma pergunta fantasiosa, egocêntrica, e não é correto pedagogicamente você mostrar nessa fase que o pai tem um “pipi” e a mãe uma “vagina”, e por aí vai. Isso é para outra idade. Neste caso, vale uma história fantasiosa, centrada na criança. Para meu filho eu contei a seguinte história: “O pai e mãe estavam muito felizes, se amavam muito, mas sentiam que faltava alguma coisa para a vida ficar mais alegre e completa. Daí descobrimos que faltava você na nossa vida! Não sabia onde você poderia estar, talvez fosse um arco-íris, já que você é um excelente pintor. “Como ele pode ter tudo que eu e mãe têm de melhor?”Então, eu e sua mãe resolvemos esfregar o cabelo, o nariz, a boca, e assim você viria com um pouquinho de cada um. E eu me perguntava: “como vou trazer esse menino lindo para morar na minha casa?”Sua mãe disse: “eu tenho uma piscininha bem quentinha na minha barriga, ele pode ficar aqui”. Daí você ficou escondido nessa piscina, não dava para te ver. Sua mãe tem uma portinha da vida no meio das pernas e você apareceu por ela. Quando você nasceu, todos os amigos estavam reunidos e todos estavam felizes. O mundo se alegrou: cachorros latiram, fogos de artifício no céu, os sinos da igreja tocaram” e esse é um exemplo de história humanista, fantasiosa, egocêntrica, e é um jeito da criança ficar satisfeita, esclarecer sua curiosidade.
Aos sete anos de idade a criança vai fazer a mesma pergunta outra vez para os pais, porém a abordagem deve ser outra, mais realista. Então os pais vão contar que a “piscina quentinha” chama-se útero, que a “portinha da vida” chama-se “vagina” e assim por diante.

RCEG: Os pais e professores devem sempre aguardar a criança questionar sobre o assunto ou devem iniciar a conversa sobre sexualidade a partir de uma idade específica?

César Nunes: Aguardar sempre. A sexualidade tem a dinâmica dela. Podemos criar facilitadores no dia a dia. Uma vez, quando meu filho era pequeno e estava assistindo à televisão comigo, ele começou a se manipular. Em vez de dizer “tire a mão daí” eu dei um cobertorzinho para ele e disse que era para ele ficar mais reservado. Isso fez com que tivéssemos cumplicidade maior, pois dependendo da maneira com que os pais lidam com o assunto, acabam assustando a criança e, desse modo, ela não se abre e irá atrás de informações em outros lugares. Os pais têm de estar educados sexualmente, senão eles serão ventrículos da educação sexual tradicional, a “machistoide” e a “amelioide”. Se a criança não se manifesta, não adianta criar facilitadores como chamar para uma conversa: “sente aqui e vamos conversar sobre algo sério”; isso já amedronta. Ou “vamos ao médico para conversar sobre algo importante”; se a criança vai ao médico é porque ela pode estar doente, e isso a deixará com medo também.
Então os facilitadores dependem do grau de convivência, de humanização e de formação dos pais.

RCEG: Como trabalhar a sexualidade na escola?

César Nunes: Hoje nós temos uma sociedade que exibe a sexualidade na televisão, nas revistas, na internet, na novela das oito e não temos o acompanhamento, nem da família, nem da sociedade e nem da escola. A escola tem uma educação sexual biologista, médica, preventiva. Então aprende-se os nomes dos órgãos, as doenças e como preveni-las, o ciclo menstrual, enfim, uma linguagem somente científica. E hoje em dia, os pais delegaram a educação sexual para a escola, o que é um grande erro porque uma escola pode dizer sobre a psicologia do homem e da mulher, pode mostrar os papéis históricos, mas uma escola não pode dizer o que é certo e o que é errado, a moralidade sexual é dos pais. E nós vivemos hoje uma desagregação da família. Vivemos numa sociedade discursiva sobre o sexo mas pouco informada. A maior estrela do momento, o Neymar, engravida uma menor, ele com 19 e ela com 16. É a deseducação sexual, é o exemplo que o ídolo do futebol está passando para as crianças. Fora isso, músicas como funk, programas de TV, revistas para adolescentes estão estimulando a sexualidade de forma vulgar e mercantilista.
Há muita informação, inclusive via internet, pois estamos na era digital e o maior prejudicado é a criança que não tem como assimilar tudo isso sozinha. Ela precisa de orientação. A “orientação sexual” surgiu com os temas transversais em 1997, desse modo o professor começou a lidar melhor com o tema, porém não há em nenhum curso de Pedagogia um semestre sobre educação sexual na infância e na adolescência. Como o professor pode dar uma orientação sexual mais humana se ele não aprendeu a teoria pedagógica? As práticas do Ministério da Saúde, como distribuição de camisinha na escola, campanhas preventivas no Carnaval, entre outras, são importantes, mas elas sozinhas não moldam uma educação sexual eficaz. Hoje, estamos na pré-história da educação sexual, precisando passar para outro patamar. É necessário ter uma aula de educação afetiva e sexual, a criança e o adolescente precisam entender que a sexualidade está ligada ao afeto. Senão, olha o que acontece: uma pessoa que tem autoestima elevada não precisa sair beijando vinte pessoas numa balada, não precisa transar com quatorze anos desenfreadamente para fazer parte do grupo de amigos, as meninas não precisam sair com um monte de caras para provar que são atraentes.
Então precisamos sensibilizar os pais e formar os professores para essa educação sexual afetiva.



RCEG: Podem afetar a sexualidade na vida adulta o interesse na infância, que meninos têm pelas brincadeiras de meninas e vice-versa?

César Nunes: Não há tendências naturais para a homossexualidade ou heterossexualidade. Não é correto dizer isso. Não dá para saber o dia que eu virei heterossexual ou uma pessoa virou homossexual. Inclusive hoje já está se dizendo “homoafetivo” ou “homossexualidade”, pois o “ismo” do “homossexualismo” é machista e preconceituoso.
Há uma determinação biológica, o homem e a mulher, e uma determinação cultural, que canaliza ou reprime a sociedade. Não se pode afirmar: “eu sabia que ele (a) era homossexual pois tinha tendências biológicas”; ou: “é homossexual por causa do pai ou da mãe”; ou ainda: “é homossexual porque ele(a) escolheu”. Isso é incorreto.
A sexualidade é minha identidade ontológica e é por isso que é importante o bom relacionamento com os pais, pois aqueles que descobrem sua homossexualidade e não são aceitos pelos pais sofrem muito e podem tomar atitudes errôneas, tornando-se adultos infelizes e confusos.

RCEG: Quando o tema sexualidade não é bem trabalhado na infância, quais são as consequências?

César Nunes: Faz com que as crianças busquem outras fontes para tirar suas dúvidas, procurando as respostas em lugares menos qualificados para isso, como amigos, revistas pornográficas, internet, no banheiro, entre outros.
Eu acompanhei o programa “Malhação”, da rede Globo, que é focado em adolescentes. Certa vez, um personagem da novela disse: “eu não tenho atração nem por meninos e nem por meninas”; a professora respondeu “você é assexuado”. Criou-se uma categoria de “assexuado” em três programas! E isso não existe, nem na pedagogia e nem na biologia, a assexualidade é só para amebas! Cientificamente incorreto, atrasado e desumano. E não houve um lugar em que se alertasse a população para esse erro de informação.
Não há saída, ou criamos um espaço para debater sobre o assunto na escola ou em casa ou as crianças vão continuar aprendendo de forma errada sobre a sexualidade. A escola precisa perguntar: que sexualidade queremos passar? Como vamos passar? Os pais e professores devem se reeducar, ir atrás de informações, por meio de livros e outros materiais especializados, enfim, preparar-se para essa nova geração.



Clube Eu Gosto - A Revista do Professor

Número VI





04 junho 2012

INCLUSÃO EDUCACIONAL: CAMINHOS E DESAFIOS




Inclusão social é um termo amplo, utilizado em contextos diferentes, em referência a questões sociais variadas. De modo geral, o termo é utilizado para referir-se à inserção de pessoas com algum tipo de deficiência às escolas de ensino regular e ao mercado de trabalho, ou ainda para reportar-se a pessoas consideradas excluídas, que não têm as mesmas oportunidades dentro da sociedade, por motivos como:
• Condições sócioeconômicas
• Gênero
• Raça
• Falta de acesso a tecnologias
(exclusão digital)
A inserção dessas pessoas que se encontram a margem da sociedade ou o acesso as tecnologias aos excluídos digitais ocorre, geralmente, por meio de projetos de inclusão social, o que reforça a utilização desse termo. Alguns autores defendem, porém, que não existe o “fora” ou “dentro” da sociedade, já que todas as pessoas são produtos dela.

O processo de inclusão social de pessoas com necessidades especiais tornou-se efetivo a partir da Declaração de Salamanca, em 1994, respaldada pela Convenção dos Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre Educação para Todos (1990).

Os projetos de inclusão social de maior repercussão são os seguintes:

• O processo de inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas de ensino regular;

• A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, nas empresas com mais de cem funcionários, proporcionalmente.

• O sistema de cotas para negros, índios e estudantes egressos da escola pública nas universidades;

A inclusão social, em suas diferentes faces, é efetivada por meio de políticas públicas, que além de oficializar, devem viabilizar a inserção dos indivíduos aos meios sociais. Para isso, é necessário que sejam estabelecidos padrões de acessibilidade nos diferentes espaços (escolas, empresas, serviços públicos), assim como é necessário o investimento em formação inicial e continuada dos profissionais envolvidos no processo de inclusão, principalmente dos professores.

Pensar em inclusão social nos remete, necessariamente, ao seu reverso: a exclusão social. Os dados da realidade brasileira e mundial são tão marcantes quanto a exclusão, que, ao pensar em um projeto sobre ética e cidadania, somos levados a estabelecer a inclusão como um desejo, uma realidade que só será alcançada com grandes transformações sociais e políticas.

A situação de exclusão social que encontramos no Brasil, embora não expressa em números neste texto, também é muito grave. Buscar estratégias que se traduzam em melhores condições de vida para a população, na igualdade de oportunidades para todos os seres humanos e na construção de valores éticos socialmente desejáveis por parte dos membros das comunidades escolares é uma maneira de enfrentar essa situação e um bom caminho para a democracia e a cidadania.

O desafio da inclusão é uma possibilidade de se repensar o ensino, a aprendizagem, além de reestruturação de política e estratégias educacionais.
A inclusão educacional pressupõe a realização de currículos abertos e flexíveis, que sejam comprometidos com o atendimento às necessidades educacionais de todos os alunos assegurados através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Propiciando aos alunos possibilidades e direitos, a inclusão é um processo em construção, em que professores da classe comum, especialistas e profissionais da saúde, toda comunidade escolar devem trabalhar junto, para que a verdadeira inclusão se efetive.

Devemos enfrentar com urgência o desafio da inclusão escolar, precisamos colocar em prática os meios pelos quais ela se efetiva, promover uma reforma estrutural e organizacional de nossas escolas. Precisamos responder às novas propostas e mostrar nossa capacidade de mobilização.

A experiência inclusiva nos tem mostrado a efetivação da qualidade do ensino, do trabalho em conjunto, do compromisso de todos os envolvidos nesse processo inclusivo, apesar de que o maior desafio ainda seja a busca pela qualificação de todos os professores em razão das condições variáveis e difíceis em que muitas vezes trabalhamos.

Por que as atitudes dos indivíduos em relação ao próximo nem sempre condizem com valores como o respeito, a solidariedade e a cooperação? Em diferentes lugares do mundo, situações que retratam a violação desses deveres, como as atitudes que revelam os valores acima mencionados, geram indignação e inquietações. As virtudes, consideradas fundamentais para a qualidade da vida em sociedade, são também princípios da Inclusão, em seus diferentes aspectos: inclusão das diferenças de uma forma geral, em suas diversas manifestações.

Lembramos o quanto as sociedades se modificam e se transformam ao longo do tempo, o que pode ser facilmente constatado por meio de um breve resgate na história. Com efeito, essas mudanças podem ser superficiais ou profundas, lentas ou rápidas, instantâneas ou gradativas. Podemos ainda dizer que a sociedade atual se caracteriza pelo avanço técnico-científico e informacional que lhe confere peculiaridades nunca antes imaginadas. Em contrapartida, emerge a sociedade do ter em detrimento do ser, da rapidez desenfreada, da competição acirrada, e, porque não dizer, marcada por profundas crises.

Esses aspectos caracterizam as sociedades do mundo contemporâneo, que, vivenciam uma radical transformação ocorrida nos modos de vida e nas relações humanas.

O trabalho na escola inclusiva deve prever a mudança de comportamento, hábitos e valores, pressupondo que o docente compreenda como ocorre o desenvolvimento intelectual e moral da criança, a construção de conhecimentos e posteriormente a adaptação de atitudes (PIAGET, 1932).

A implementação efetiva da inclusão na escola e na sociedade está atrelada à forma que essa escola e essa sociedade vêem o ser humano. Inclusão significa exercício de direitos e deveres, qualidade de vida e das relações, a construção de uma sociedade igualitária, justa e acolhedora para todos!





Clube Eu Gosto - A Revista do Professor
Número IV